30.4.07

O Primeiro de Maio


As imagens revelam uma das mudanças trazidas pela Revolução de Abril: a possibilidade de comemorar o Dia do Trabalhador em liberdade e como feriado nacional. Para além da instituição do acto comemorativo, a Revolução de 25 de Abril trouxe novas relações no mundo do trabalho.
No período do Estado Novo todas as tentativas de comemorar o Primeiro de Maio foram sendo controladas e evitadas pela acção vigilante e repressiva dos seus agentes políticos e policiais. Em relatórios publicados pela Presidência do Conselho de Ministros, em 1984, no âmbito do trabalho desenvolvido pela Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista, é possível encontrar registos com teor semelhante àquele que se reproduz. Escreve José Soares da Fonseca, Ministro das Corporações (os sindicatos eram organizações proibidas) e Previdência Social, ao Presidente do Conselho, António Oliveira Salazar, em 1954: "Há já bastantes anos, fizeram-se no Norte, no dia 1º de Maio, dois retumbantes Cortejos do Trabalho. Não sei se eles representavam uma tentativa de «nacionalizar» aquela data. A verdade é que ficaram como factos isolados. Não houve e não há um dia especialmente comemorativo do trabalho". Contudo, os trabalhadores da Covilhã, a que o relatório dá particular atenção, ultrapassavam o facto paralisando a produção e "compensando" a fábrica noutros momentos. Perante o sussurro que fazia circular a hipótese de uma paralisação geral, em 1954, Soares da Fonseca considera que não seria de manter uma "atitude benévola", semelhante à assumida no ano anterior, mas, pelo contrário, "conviria tomarem-se a tempo as medidas adequadas - que parecem não dever excluir a certa demonstração de força" (veja-se Presidência do Conselho de Ministros. Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista - Trabalho, Sindicatos e Greves no Regime Fascista. 1984, pág. 195-197) [Nota: esta publicação, bem como outras decorrentes do trabalho da referida comissão, está disponível no Centro de Aprendizagem da Escola].

26.4.07

Comemorações de Abril_memória



Véspera de feriado. A sala do auditório da Escola Secundária de Monserrate encheu para ouvir o Dr. Carlos Plácido de Sousa que, de forma afável e com particular poder de comunicação, nos relatou factos da sua história de vida que cruzou com a história da nação no período entre o Estado Novo e a Revolução de Abril. A sua biografia remete-nos para o movimento estudantil, para a candidatura de Norton de Matos, que apoiou, e para a colaboração na fuga dos presos políticos da Fortaleza de Peniche. A sua militância comunista conduziu-o ao exílio entre 1960-1974. Revelando-se tranquilo, o conferencista conseguiu apreender a atenção dos alunos e docentes durante cerca de 90 minutos. No final, foram levantadas algumas questões que suscitaram reflexões, em tom optimista e confiante, por parte do palestrante. Nascido em 1925, revelou capacidade para entender os problemas e anseios da juventude e recusou a utilização de epítetos pessimistas para a qualificar.
No âmbito dos actos comemorativos do 25 de Abril, o grupo de História dinamizou uma exposição com fotografia de Eduardo Gageiro, a que nos referimos em post anterior. Poucos foram aqueles que não ficaram sensibilizados pelas imagens, algumas das quais entretanto transformadas em ícones. Eduardo Gageiro teve noção clara: por aqueles dias fazia-se história, no plural.

23.4.07

Exposição "Fotos de Abril" de Eduardo Gageiro

O Grupo de História, no âmbito das comemorações do 25 de Abril, apresenta a exposição "Fotos de Abril" de Eduardo Gageiro. Fotógrafo, nascido em Sacavém, no ano de 1935, Eduardo Gageiro publicou a sua primeira fotografia aos 12 anos, no "Diário de Notícias". A sua carreira enquanto repórter fotográfico começará no "Diário Ilustrado", tendo, posteriormente trabalhado nas publicações periódicas "O Século Ilustrado", "Eva", "Almanaque", "Match Magazine" e na revista "Sábado". Colaborou com a delegação portuguesa da Associated Press, a Companhia Nacional de Bailado e a Presidência da República (foi o fotógrafo oficial durante os mandatos do General Ramalho Eanes). Gageiro recebeu diversos galardões, um pouco por todo o mundo, destacando-se a condecoração com o título de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, na cerimónia do 10 de Junho 2004, e o Prémio Especial do Júri, a Medalha de Ouro para a melhor fotografia e a Medalha de Ouro para a melhor fotografia a preto e branco da 11ª Exposição Internacional de Fotografia Artística da China, em 2005.

A exposição estará patente nos próximos dias, num dos átrios da Escola Secundária de Monserrate, e é acompanhada por música do período revolucionário e outras imagens que fazem parte do nosso património e memória colectiva.















21.4.07

A escola do Estado Novo

Na escola do Estado Novo a acção doutrinária foi, quase sempre, prevalecente sobre a formação escolar. Interessava, particularmente nas escolas primárias, dar voz à ideologia dominante.

17.4.07

No tempo em que a Coca-cola não fazia parte da "nossa paisagem moral"







O apelo publicitário é para uma pausa, a pausa que "refresca depois da escola".
A imagem da Coca-Cola, hoje globalizada, não fazia parte dos referentes visuais dos portugueses nos anos trinta do século passado, época a que pertence este cartaz. Salazar proibiu a comercialização desta bebida no território continental, argumentando, em carta escrita ao russo Alexandre Makinski, relações públicas da empresa na Europa, que sempre se opusera "à sua aparição no mercado português" porque se tratava de uma questão de "paisagem moral". Segundo António Oliveira Salazar, "Portugal é um país conservador, paternalista e - Deus seja louvado - 'atrasado', termo que eu considero mais lisonjeiro do que pejorativo. O senhor [refere-se a Makinski] arrisca-se a introduzir em Portugal aquilo que eu detesto acima de tudo, ou seja, o modernismo".
Era este o retrato do país de Salazar...

16.4.07

Retratos de um país censurado

(1) "autorizado com cortes"
(2) Colunas do jornal "A República" censuradas.

(3) Relatório de um livro censurado, intitulado "A Mulher". Diz o "leitor" - Cap. Borges Ferreira - que é um "livro cientifico, que todas as mulheres deviam ler, mas, para isso, devia ser tirado o capítulo XXXVII. É este capítulo que, a meu ver, estraga o livro e o torna impróprio de entrar nas nossas casas".
 
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